Localizado no “South Brooklyn”, e na borda do East River, o Red Hook é um bairro que não figura nos guias de turismo, apesar de ter história pra contar e lugares pra mostrar. Foi cenário de filme com Marlon Brando, o lugar em que Al Capone virou Scarface, e até o bairro mais temido da cidade nos anos 90; hoje abriga restaurantes deliciosos e comércios descolados que contribuem para transformar essas esquinas num must go para quem quer curtir uma NY fora do óbvio. Separei três lugares imperdíveis para esse primeiro rolê, e em breve posto mais dicas.
Resumão histórico
Ganhou esse nome dos holandeses que se instalaram ali em 1636, por conta do seu solo avermelhado (Red), e a forma de gancho (Hook) do canto peninsular que ocupa numa das primeiras áreas oficiais do Brooklyn. A arquitetura herdada pelos seus imigrantes, somadas às docas dessa época criaram a atmosfera portuária e industrial que até hoje se vê por lá, entre grafites e lojinhas que ditam os novos tempos do Red Hook. São restaurantes e comércios espaçados entre si que atraem locais fugindo do caos da Big City, dominada por turistas. O metro quadrado já valorizou com o fluxo de new yorkers que decidiram mudar pra lá na última década, e há quem aposte que o Red Hook é a próxima Williamsburg em termos de gentrificação.
Curiosidades
- Um dos primeiros crimes cometidos pelo maior gangster da história dos EUA aconteceu aqui; inclusive, a ferida na face de Al Capone que lhe rendeu o apelido “Scarface” foi adquirida no bairro, numa briga de rua durante a sua adolescência (lá por 1900).
- O filme ganhador do Oscar de 1955, “On The Waterfront” (traduzido como “Há lodo no cais” ou “Sindicato de ladrões”), estrelado por Marlon Brando, e que conta a história de um estivador das docas de NY que entra em conflito com um sindicato vinculado ao mundo do crime, foi gravado no Red Hook.
A vista exclusivassa da Estátua da Liberdade
Cerca de 4 milhões de pessoas visitam a Estátua da Liberdade por ano. Mas visto daqui, um dos maiores pontos turísticos do mundo parece um paraíso perdido numa ilhota próxima. Esqueça o caos para conseguir uma boa foto. Até meditar com o barulhinho do mar de trilha sonora, eu meditei.
Para chegar, jogue no seu GPS Píer 44 Waterfront Garden.
Tinha uma fábrica de chocolate no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma fábrica de chocolate com uma destilaria de uísque lá dentro!
Como tudo em NY, se perder caminhando é o melhor jeito de descobrir felizes surpresas. Foi assim que conheci duas novas frentes do movimento de comidas e bebidas artesanais que domina o Brooklyn.
- A Cacao Prieto é uma fábrica local de chocolates orgânicos (com Certificação Kosher), feitos com grãos da República Dominicana. Comprei uma barra do 72% cacau – custou USD 8 – e DEOS, que delícia!
- E a Widow Jane, uma destilaria artesanal de whiskey bourbon, que é o uísque americano, feito com um mínimo de 51% de milho. Eles se orgulham por trabalhar com uma água filtrada da pedra calcária de Rosendale, cidade no interior do Estado de New York, que contém mais minerais que a encontrada em Kentucky – o epicentro da produção americana desse bão drink. Já ganharam alguns prêmios, até com as garrafas descansadas só por 2 anos! Dá pra fazer uma degustação dos uísques da casa a partir de 8 dólares. Não bebi por motivos de: hoje é uma quarta-feira à tarde, te controla.
O galpão fica na 218 Conover St. e a visita guiada nos bastidores dessas duas fábricas, para sair meio bêbado de uísque e meio feliz de chocolate, custa 20 dólares.
Um dos melhores lugares para comer lagosta em NY – e por apenas 25 dólares!
Maine é o estado localizado no extremo nordeste dos USA, super conhecido pela pesca de peixes e frutos do mar de qualidade, que são fornecidos para o resto do país e pelo mundo. É de lá que vêm as lagostas do Red Hook Lobster Pound (284 Van Brunt St.), um restô famosinho e no coração do Red Hook que, às quartas-feiras, serve seu prato principal por 25 dólares (em outras datas, o preço flutua acima disso, de acordo com o valor do peso do crustáceo no dia).
- De entradinha eu sugiro os cremes New England Clam Chowder (feito à base de vôngole, batata, vinho branco e manteiga), e o Down East (também com pedacinhos de molusco como mexilhão, mais lagosta e peixe haddock imersos em um creme com base de tomate).
- O Lobster Dinner é composto de uma lagosta fresca (de mais de meio quilo, retirada ainda viva de um dos tanques que eles mantém numa área entre a cozinha e o salão do restaurante), batatas cozidas, milho, e uma mini salada de repolho com molhinho de iogurte apimentado. O ritual é completo: com direito à babador pra você quebrar cada perninha do bichano que vem inteiro pra mesa, e mergulhá-las na manteiga sem medo de ser feliz.
- $$$ Ou seja, numa quarta-feira, o Lobster Dinner saí por 25 dólares. Se você quiser experimentar os cremes de entradinha que eu sugeri, cada um sai por 6 dólares. Com a tax (cerca de 9%) e a tip (os locais costumam dar 18%), duas pessoas jantam por USD 80, ou 40 dólares por pessoa.
Ainda bem que estamos em 2017, amigos. Porque quando o furacão Sandy arrebatou os Estados Unidos em 2012, o bairro e, consequentemente, o restaurante, foram super prejudicados (veja na foto acima a marcação de até onde a água chegou!). Não deu pra comer lobster aqui por quatro meses; até o prefeito de NY da época, Mister Bloomberg, vir comer um sanduba de lagosta (os lobster rolls são bem famosos também!) aqui no primeiro dia de março de 2013, reabrindo os trabalhos do bairro Red Hook.
Como chegar no Red Hook?
Possivelmente a única coisa que ainda impede o bairro de de tornar um lugar muito popular é que:
- O metrô mais próximo (Smith – 9th St., que atende as linhas G, verde, e F, laranja) dista cerca de 20 minutos andando da rua principal, a Van Brunt Street, onde estão as lagostas;
- As linhas de ônibus que rodam por lá saindo de Manhattan e Brooklyn são a B57 e a B61;
- Também dá pra chegar de CityBike – um passeio delícia pra fazer saindo do Brooklyn Bridge Park, de onde se vê os arranha-céus do outro lado da água, em Wall Street;
- E claro, Uberzão, Liftzão ou o táxi amarelo mais charmoso do mundo te levam até o bairro que pouca gente, além de você, conhece em NY. 😉