#MangiaCheTeFaBene: Quando em NY, almoce na verdadeira Itália, que fica ali no Bronx!

Muita gente que visita New York vai até a Little Italy de Manhattan, próxima à Chinatown, que de tão turística, põe os visitantes em risco de almoçarem uma massa cozida demais… Se seu negócio for como o meu, de comer comida italiana de verdade, al dente, vá ao bairro Belmont, no Bronx, e conheça a verdadeira Little Italy de NY, onde os imigrantes começaram a desembarcar nos anos 20, e até hoje mantém, orgulhosos, a sagrada Arthur Avenue – onde muita gente já correu risco de vida, não por conta da massa, mas por conta da máfia mesmo.

Se você não acredita em mim, ligue seu Netflix e confie em Robert De Niro ou Francis Coppola, diretores de Bronx Tale (que hoje também é musical da Broadway!) e The Godfather (O Poderoso Chefão), filmes em que essa herança cultural obscura e com cheiro de molho de tomate está bem retratada.

Fofoca de bastidores: uma das cenas mais épicas da história do cinema, quando Corleone  (Al Pacino) assassina Solozzo e o Capitão McCluskey – acima, ensaio na foto em PB, e abaixo, no vídeo -, foi gravada no Restaurante Louie’s, que fica a 10 minutos do Restaurante Mario’s, na Arthur Avenue, o lugar onde Coppola realmente queria gravá-la! O dono recusou dizendo que queria ser lembrado pela comida servida, e não por uma cena de assassinato. Bem, o Mario’s continua forte, e como todos os italianos duros na queda, a família afirma que não se arrepende de ter recusado a proposta de Coppola. Sei não.

 

O Bronx é perigoso? Além dos mafiosos, nos anos 70 essa região foi palco de grandes motins raciais. Não à toa, portanto, e também pela alta concentração de conjuntos habitacionais populares de NY, o borough Bronx – como são definidas as cinco partes de NY, que incluem Manhattan, Brooklyn, Staten Island e Queens – levou a fama de ser perigoso.

O índice de criminalidade do Bronx caiu mais de 70% de 1993 a 2010. Retirei esse recorte da criminalidade em NY no último ano do site da prefeitura, e o mouse está estacionado sob a área do South Bronx, onde fica a Little Italy. Só de bater o olho dá pra entender que alguns pontos de Manhattan podem ser piores do que o Bronx… Ou seja, se você mora no Brasil, aqui tá sussa! Rs.

crime scene

Agora, sem sacanagem: conversei com dois americanos que nasceram e cresceram lá no Bronx e eles me explicaram que sim, algumas ruas podem ser menos amigáveis, mas em áreas com apelo de entretenimento, como o zoológico e a famosa avenida de restaurantes, não há com o que se preocupar. Segundo os locais, evite a noite fora desses dois centros, e curta com tranquilidade.

 

Antes da massa, gorilas! 

Pra abrir o apetite e aproveitar seu ticket de metrô até o Bronx, inclua na programação um passeio pelo Bronx Zoo. É o segundo maior zoológico dos Estados Unidos, e o mais legal é que é provável que os visitantes se sintam mais enjaulados do que os bichíneos; uma política moderna de respeito à vida animal garante mais espaço para as girafas e seus semelhantes circularem com liberdade, do que para quem vai até lá para observá-los. Justo, né?

Às quartas-feiras as entradas são free, mas doações sempre são bem vindas para manutenção das vidinhas que moram lá, e das pesquisas desenvolvidas in loco para preservação do nosso ecossistema.

 

Almoce no Zero Otto Nove

A cantina Zero Otto Nove (2357 Arthur Ave) é a mais recomendada desse centro de cultura italiana no Bronx; ela disputa o pódio com a Mario’s, citada acima na cena do Poderoso Chefão, e uma fica em frente à outra, praticamente.

Já provei cinco pastas da casa e nenhuma me decepcionou! Pelo contrário, eu já tinha tentado comer Spaghetti ao Nero di Sépia (aquela massa feita com a “tinta” da lula) numa viagem à Roma, e sai meio frustrada com os resquícios daquela tinta preta nos lábios… Decidi tentar de novo no 089, e superei o trauma de um jeito que até raspar o soborô no prato da minha amiga, raspei.

A Pasta Al Forno é rigatoni com porpetas de carne, sopressata, ricota, mozzarella, ovos e molho de tomate. A Mafalde com Broccoli Di Rapa vem com amêndoas tostadas, queijo pecorino e a folha do brócoli refogada.

Dois dos outros pratos que provei faziam parte do Menu do dia e eram maravilhosos! Então pergunte ao garçom sobre Day Specials e, se sua lombriga se animar com a descrição, peça sem medo de ser feliz. E se você não entender o que eles dizem, pergunte de novo (alguns garçons são da Albânia e forçam o sotaque italiano que misturado com o inglês… enfim, né?).

Tem pizza também, claro. O forno fica no centro do salão principal, e o The New York Times recomenda a Pizza La Riccardo, com pedaços de abóbora, mozzarella defumada e pancetta.

Uns bons drink. Pra acompanhar, uma birra Peroni, a cerveja mais popular da Itália, sempre servida num canecão congelado como a gente gosta, ou uma tacinha de tinto – todos são bacanas, não precisa nem chamar o sommelier. 😉 Se quiser se jogar numa garrafa, eles tem uma carta de vinhos bem democrática, que vai de 30 a 300 dólares.

 

Rolê pela Arthur Avenue

Pra comprar uns quitutes e fazer a digestão antes de se jogar na sobremesa, caminhe pela Arthur Avenue, e visite esses lugares.

  • Parada obrigatória no Arthur Avenue Retail Market (no número 2344 da avenida) pra ver panetones fora de época, sanduíches assustadores, e comprar uma latinha de anchovas ou um souvenir tipo charutão do Poderoso Chefão. O mercado foi inaugurado em 1940 sob a gestão do prefeito La Guardia, filho de um imigrante italiano, e considerado um herói na história de NY por ter alavancado empregos na maior cidade do país no período da Great Depression, a depressão econômica que abalou os Estados Unidos depois de 1929.
  • Aficcionados por linguiças, parem na The Calabria Pork Store (no número 2338 da avenida), experimente a hot sausage, e se o cheiro de bacon defumado não te obrigar a fazer isso institivamente… Olhe para o teto.
  • Cannolis everywhere! São várias as Pastry Shops disponíveis para uma sobremesa italiana seguida de um cappuccino espesso. Escolha entre a DeLillo, Gino ou a Egidio, que está lá desde 1912 e onde provei essas belezuras aí da foto, que incluem o tradicional cannoli recheado com ricota, mas com a massa folhada envolta em chocolate meio amargo. Baratinho: as três sobremesas custaram menos de 10 dólares.
  • Tá com tempo? Tem um Museu interessante ali pertinho, na Forham University. A 15 minutos de distância (a pé) do Mercado Central da Arthur Avenue está um dos Campus da Universidade Fordham, uma instituição católica que abriga o Museum of Greek, Etruscan and Roman Art. O Museu é pequeno quando comparado à proporção dos museus de NY, mas fica dentro da biblioteca da Universidade e tem uma coleção de mais de 200 itens, com peças que datam desde o século 10 antes de Cristo. Ah, e é free! Roma Antiga e Little Italy juntas faz sentido, né?

 

E por fim… Se eu, De Niro, Coppola, Al Pacino, toda a comuna italiana e a mozzarella fresca ainda não te convencemos, apelo para a new yorker Lady Gaga em início de carreira. A musa pop, que também tem sangue italiano correndo nas veias, gravou um clipe nas esquinas da Arthur Avenue, para a música (mais cheesy da sua carreira, provavelmente) do seu álbum de estréia The Fame, de 2008.

Fãs, não fiquem desapontados. There’s Nothing Else I Can Say.

 

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