Graças ao aquecimento global, ontem o termômetro aqui bateu 26 graus (depois de uma semana com 5 de média…), eu fiz a sereia, e acabei descobrindo Terra Brasilis em Rockaway Beach, uma praia no Queens, a cerca de 40 minutos de Manhattan.
No verão o lugar vira tipo o inferninho, entre New Yorkers de biquíni bunda extra large, surfistas em busca do swell perfeito e um calçadão com gente de patins, skate e bike, uma vibes beeem Califa. Fora os russos que moram nas imediações tomando vodka congelada – mas isso é papo pra outro post.
No meio do rolê eu comi a melhor coxinha (!) da vida no Beach Bistrô 96, um restô que parece uma casinha de sapê e ganhou o selinho positivo da crítica gastronômica do NYTimes. Como o mundo não pode ser mais ovo, ele é tocado pelo chef santista (013) Carlos Varella, que casou com uma modelo gata e gente fina, Andressa Junqueira, de BH, que faz todo mundo ali no salão de sentir bem vindo, tipo quintal de casa.
A coxinha não tem massa, só um recheio de frango desfiado e catupiry envolto numa casquinha crocante feita com farinha de rosca (que aqui eles chamam de bread crumbs)… Amém!
Enquanto eu tomava suco de cajú e contava pros gringos ao meu redor que aquilo + cachaça virava a melhor caipirinha da vida, vi um outro brasileiro de Ray Ban e camisa de manga curta aberta no peito chegar falando alto e beijar a testa do neném mais novo do casal, que coleciona 3 meninos, apesar de parecerem mais novos que eu.
Achei que era o avô descolado deles, mas não: é o carioca que há dois anos começou a construir o Museu do Surf do outro lado da rua – e tal qual os brasileiros fazem em terras estranhas e nem tão estranhas, desenvolveu aquela intimidade gostosa pra agir como se fosse parte da família.
Fernando tem 50 e poucos anos e também ganhou um profile no jornal como o cara que conserta pranchas em Rockaway, bairro que começa a ficar gentrified como os outros de NY – aluguéis mais altos, novos empreendimentos chegando, incluindo as grandes redes de varejo, que dão uma cara meio padrão em qualquer grande cidade… Ele trabalha oficialmente no serviço de atendimento da United no JFK Airport, mas pela entrega à cultura do surf, dá pra perceber que esse é o seu side job, e não o principal, na verdade.
Ele abriu as portas do futuro Museu pra gente e, como todo bom surfista do Rio, o coração também. Falou dos desafios de colocar aquilo de pé sozinho, honrando as pranchas dos amigos bombeiros que, por exemplo, morreram salvando pessoas no Onze de Setembro. Ele sonha em projetar antigos filmes de surf em VHS no quintal do Museu, que tem redes pra gente deitar e uma churrasqueira pra assar picanha e mostrar que nem só de costelinha barbecue se faz um bom churrasco.
Quando você mora na gringa, falar português e comer catupiry num sábado a tarde têm muito valor. Sorte pra gente! 🙂